sexta-feira, novembro 26, 2004

TEATRALIZAR

Conseguir justificar aquilo que com clareza se pretende. Qual é a tua intenção? Sugerem-me comunicação. Parte-se de uma imagem escolhida. Vejo aquele que me completa, metade diversa do que o meu corpo poderia ter sido e apenas não foi. Conseguirei ao mesmo tempo entregar-me, apesar da distância? Guardo-lhe os contornos do corpo, primeira expressão a ocupar o espaço, hei-de olhá-lo, reagir, o desafio impõe-se. Tê-lo presente e afirmar-me para que ele saiba de mim aqui. São os sentidos - e pela primeira vez utilizo-os de forma intensiva, pondo de lado o direito da utilização preferencial de um ou outro conforme o contexto ou o objecto - que me puxam para outros corpos. Avanço numa construção lenta e contínua por cima de uma memória desperta. Domino o tempo. Respiro com vagar. Desenho movimento que só o espaço pode proporcionar. Quero criar contraste. Tomo iniciativa. Fingir à força de espontaneidade que se acredita. Alguma coisa acontece se não se fica amarrado a si próprio. Largo as composições externas. Perco-me na anarquia e restabeleço-me na liberdade. Não se ensina, nunca confundir com inúteis explicações, tem a ver com colocar humanidade dentro. Tudo palavras cheias. É bom aprender o requinte. Sei que preciso conhecê-lo. Deixo que seja uma variação consistente daquilo que me oferecem constantemente com uma piscadela de olho.